Ministra Sonia Guajajara participa de seminário na UFGD
- UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados
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Ministério dos Povos Indígenas está promovendo série de seminários COParente como preparação dos povos indígenas para a COP 30

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, esteve nesta segunda-feira (09/06) na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), participando da abertura do Ciclo COParente – Consulta e Preparação dos Povos Indígenas para a COP 30, junto aos povos Guarani, Kaiowá e Terena de Mato Grosso do Sul.
O evento integra uma série de 14 encontros promovidos pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) em todo o Brasil, com o objetivo de dialogar com as comunidades indígenas, registrar suas demandas e preparar lideranças para participar da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.A abertura do seminário aconteceu na Faculdade Intercultural Indígena da UFGD (FAIND) e contou com a presença de diversas lideranças indígenas e representantes de instituições parceiras.
Compam a mesa de abertura: Tonico Benites, coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Ponta Porã; Norivaldo Mendes, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB); Voninho Benites Pedro, do movimento de professores Guarani-Kaiowá; Salim Nhandeva, representante da juventude Guarani-Kaiowá; Valdelice Veron, da Aty Guasu; a deputada estadual Gleice Jane Barbosa; o vereador Franklin Schmalz; o secretário municipal de Direitos Humanos, Luis Carlos Calado; a diretora da FAIND/UFGD, professora Maria Aparecida Mendes (Lia); e o reitor da UFGD, Jones Dari Goettert.
Dando as boas-vindas à ministra e aos convidados, o reitor Jones Dari Goettert destacou que Sonia Guajajara é uma figura política que representa não apenas a diversidade dos povos indígenas do Brasil, mas também todos os brasileiros que desejam viver em um planeta com água limpa, ar puro e condições dignas para se viver bem.Em sua fala, o vereador Franklin Schmalz ressaltou que a pauta indígena ganhou visibilidade apenas recentemente e que a criação de um ministério específico para os povos indígenas representa uma importante conquista. Ele também destacou a parceria da UFGD com o MPI, por meio de ações concretas voltadas à melhoria da qualidade de vida nas comunidades indígenas, como a perfuração de poços na Reserva Indígena de Dourados e em áreas de retomada.
Na mesma linha, o secretário municipal de Direitos Humanos, Luis Carlos Calado, afirmou que a visita da ministra é uma honra, reforçando que ela representa a voz e o olhar dos povos indígenas na defesa dos ecossistemas brasileiros. Para ele, em um cenário de emergência climática, é essencial ouvir os povos indígenas, que historicamente vivem em equilíbrio com a natureza.
Representando a juventude Guarani-Kaiowá, Salim Nhandeva relembrou que os jovens indígenas vêm se organizando há cerca de uma década e defendeu a importância da presença da juventude em espaços de decisão como a COP 30, para levar as perspectivas e esperanças daqueles que vivem nas reservas e nas retomadas.
A diretora da FAIND, professora Maria Aparecida Mendes, explicou que foram os próprios estudantes da faculdade que escolheram sediar o evento na FAIND, em vez de realizá-lo no auditório central da universidade. Segundo ela, os estudantes reconhecem a FAIND como território Guarani-Kaiowá e demonstram, com essa escolha, o compromisso com a defesa do meio ambiente, dos recursos naturais e dos modos de vida indígenas.
A liderança Guarani-Kaiowá Norivaldo Mendes destacou a importância simbólica e política de ver Sonia Guajajara à frente do ministério, ressaltando que sua trajetória tem origem na base do movimento indígena. Voninho Benites alertou para a urgência das discussões sobre as mudanças climáticas e defendeu que a garantia dos territórios e o respeito aos modos de vida indígenas são fundamentais para preservar a biodiversidade e promover uma vida sustentável.
Representando a Funai, Tonico Benites falou sobre os desafios enfrentados na defesa das áreas de floresta, especialmente nas regiões de retomada, onde o avanço da destruição é constante. Ele enfatizou a necessidade de apoio institucional e de articulação entre diferentes órgãos para proteger esses territórios, lembrando que a Funai conta com poucos servidores e precisa de reforços para enfrentar as ameaças.
Encerrando a mesa de abertura, a deputada estadual Gleice Jane Barbosa agradeceu a presença da ministra e reconheceu os obstáculos superados por Sonia Guajajara ao longo de sua trajetória como mulher e indígena até alcançar um cargo de destaque no governo federal. Gleice defendeu que os saberes e práticas indígenas são fundamentais para enfrentar a crise climática e para resgatar formas de vida mais equilibradas, dignas e saudáveis, que respeitem os ciclos da natureza e os direitos de todos.
TERRAS INDÍGENAS SÃO ESTRATÉGIA ESSENCIAL CONTRA A CRISE CLIMÁTICA
A ministra Sonia Guajajara palestrou sobre o tema “Aldeiar a COP30”, propondo a participação ativa dos povos indígenas na 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorrerá em Belém (PA). Ela explicou que o COParente é uma estratégia para garantir que os povos indígenas do Brasil tenham uma participação qualificada na conferência, com incidência real nas decisões internacionais sobre o clima.
A ministra enfatizou que a demarcação dos territórios indígenas é a pauta mais urgente e fundamental para os povos originários no Brasil. Segundo ela, garantir o direito constitucional à demarcação é uma forma concreta de contribuir para o enfrentamento da crise climática global, pois os territórios indígenas são comprovadamente as áreas mais preservadas do país.
Sonia Guajajara defendeu que os recursos do financiamento climático global precisam chegar efetivamente às comunidades indígenas, diante do impacto positivo das ações de preservação realizadas em seus territórios. A ministra explicou que o governo federal está articulando a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, em parceria com os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, como uma iniciativa estratégica para garantir investimentos diretos em políticas públicas voltadas aos povos indígenas e seus territórios.
A ministra afirmou que os povos indígenas estão transformando a política brasileira com sua presença cada vez maior em espaços institucionais, mas ainda enfrentam resistências em estruturas que não estão preparadas para acolher os saberes ancestrais. Sonia Guajajara apontou que as mesas de decisão ainda têm “muito terno e pouco cocar” e defendeu que é preciso continuar fortalecendo a representatividade indígena no cenário político nacional e internacional. Por isso, reforçou que os povos indígenas devem chegar à COP 30 com propostas sólidas e com o reconhecimento internacional de seu papel essencial na proteção ambiental em escala global.
Jornalismo ACS/UFGD
Fotos: Ricardo Zanella ACS/UFGD